Recentemente, assisti a série “Fleabag”, escrita pela genial Phoebe Waller-Bridge. Se chamar a autora (e também protagonista) já não é spoiler suficiente, esse texto basicamente é um louvor a respeito do que essa obra causou em mim. Uma sucinta reflexão sobre Fleabag, amor, trabalho e solidão.
“Acho que você sabe como amar mais do que qualquer um de nós. Por isso acha tudo tão doloroso”.
Começamos por essa frase, dita no último episódio da segunda temporada da série. Fora de contexto (e mesmo dentro dele) acho que o que ela afirma é que paixão intensa está ligada a frustação. Basicamente, o que quero dizer é que os indivíduos são imperfeitos, amam de maneira diferentes. E às vezes eles simplesmente não amam. Simplesmente não te amam.
E embora racionalmente eu e você estejamos cientes, totalmente, das condições humanas que nos diferem, esperamos ações compatíveis com esse amor inabalável e gigantesco. Somos desesperados por uma aprovação inconsciente. Uma recíproca na mesma voltagem que nos eletrizasse completamente e, na morte, simplesmente sentíssemos plenos de todo esse amor. Algo assim, fúnebre, romântico, poético.
E é por isso, por esse desejo tão intenso dessa espécie de “aceitação” e “admiração” não muito bem definida é que pode se definir a origem, ou melhor, o estímulo de todas as nossas ações. Todas. É tudo sobre aprovação e reciprocidade. É tudo sobre paixão e amor.
Parto dessa análise porque basicamente enxergo isso nítido nas relações de trabalho. Todo o ênfase na produtividade e esforço encaminhado numa função/cargo são emergidos pelo desejo de ser admirado, “amado”, pelo aquilo que você realiza tão apaixonadamente. No fim, não tem muito a ver com sobre qual é função, mas sobre como nos empenhamos nas coisas em busca da mesma recíproca romântica. É por isso que a vida é tão dolorosa. Porque a reciprocidade plena é impossível. Dificilmente você pode ter tanta plenitude em todos os âmbitos da vida. E é por isso que viver dói tanto.
É considerável pensar que as pessoas fazem o que fazem por dinheiro, mas é preciso considerar que não realizamos tudo de maneira apaixonada. Muitas pessoas trabalham num piloto automático, sem exibir reações aos acontecimentos e apáticos com mudanças e progresso. Nesse caso, podemos considerar que o amor é um privilégio. Realizar coisas pelas quais você tem um tesão apaixonado ainda é restrito para alguns. Não atoa a infelicidade com a carreira é constante tema na comédia, no drama e nos relatos da terapia.
Essa busca que nunca cessa para obter a maior parte de amor recíproco possível nos mais diferentes segmentos da nossa vida talvez seja a razão pela qual às vezes nos sentimos tão cansados.
“Eu amo tanto essa profissão que desejo que ela me ame igualmente, sendo reconhecida pelo o que eu realizo, me sentindo como parte daquilo, ser essencial para aquela existência.”
“Eu amo tanto esse cara que desejo que ele me ame igualmente, sendo reconhecida pelo o que eu faço pra ele, me sentindo parte da vida dele, sendo essencial para sua felicidade.”
Tão iguais em áreas tão diferentes.
No fim, é tudo sobre amor e reprocidade.
(Esse texto é uma versão mais publicável e menos expositiva de uma análise pessoal sobre a vida e as características, mas que de forma geral, eu acho que se encaixa pra muita gente. Eu acho que eu sou assim um tipão bem comum de pessoa :P)
Eu te mostro o que eu escrevo e você me diz o que eu sou?
Rio Claro/SP. 20 anos.