Reflexões

Obsolescência Programada

Em certos momentos da vida, sempre há aquela música ao qual estamos viciados e escutamos exaustivamente até não suportar mais escutá-la. Em nossa sociedade contemporânea em que as coisas são produzidas para terem pouca durabilidade e quando quebram é melhor adquirir um novo produto do que optar em consertá-lo, uma vez que, as coisas se atualizam rapidamente, os padrões da sociedade mudam bruscamente, mais rápidos que os “trending topics” no Twitter, assim como um dia ter uma linha telefônica era sinônimo de status, tendo esta seu lugar na sociedade como artigo de luxo, com tempo a mesma se tornou mais “democrática” em relação à adesão, mas culturalmente, o que antes era luxo, se tornou algo em constante queda de utilização, sendo substituída pela linha telefônica móvel proporcionada pelos smartphones.

Certamente eu não escreveria apenas como bens e serviços tendem à obsolescência, não somente os mesmos estão destinados a se tornarem obsoletos. Verificando através de uma análise empírica, irei abordar brevemente como novas estruturas de relações e comunicação entre pessoas foram restabelecidas conforme o avanço tecnológico, as relações tendem a ter o mesmo fenômeno de obsolescência. A sensação presente em nossas relações advindas da internet, denomino com o termo de “superficialmente imerso”.

São palavras antagônicas, entretanto, aplico com base nas redes sociais. Já que conhecemos um indivíduo superficialmente através de seus perfis na internet, todavia, expõem seus momentos a ponto de termos uma imersão em suas “vidas”, claramente de uma perspectiva romantizada e manipulada, pois postamos que estamos e os pratos que pedimos no Outback com um sorriso no rosto, mas não o tempo na fila de espera que te irritou profundamente, mas esse não é o assunto proposto de ponderação.

Por muito tempo as relações sociais eram estabelecidas conforme o ambiente físico em que estávamos alocados, contextos sociais tais como trabalho, escola, faculdade ou até mesmo em igrejas. Em sua maioria as relações de amizades e até mesmo amorosas surgiam por contatos em comum, ou seja, amigo de uma amiga, sobrinho de um amigo, colega de trabalho, amigo de turma, logicamente com surgimento da internet essas fronteiras físicas foram extinguidas, atualmente podemos nos envolver e conhecer pessoas de diversos lugares, desde que tenham acesso à internet, portanto houve uma mudança nos intermédios da criação de relações sociais.

As amizades criadas pelo ambiente físico não foram extintas, os vínculos tendem a se tornar mais fortes com a utilização da internet através do que costumo chamar de  “manutenção dos diálogos”, entretanto, essa manutenção nas relações sociais do ambientes físicos via internet, em fatores empíricos, partindo do ponto da comunicação via internet em que utilizavam  para comentar coisas do dia a dia com pessoas que faziam parte do seu  ambiente físico como uma forma da expansão de suas relações, geralmente as comunicações se iniciavam de uma forma “direta” partindo de um interesse. Atualmente não há com tanta intensidade esse contato direto de simplesmente começar uma conversa, sempre é necessário um prelúdio para o início do assunto para seguir o diálogo, essa ferramenta atualmente é por exemplo os “stories” do Instagram ou “status” do WhatsApp, portanto até mesmos as relações que foram estabelecidas de forma física foram afetadas com advento do avanço tecnológico.

Em contrapartida, as “amizades virtuais” como diria Celso Portiolli, existem em sua grande maioria as barreiras físicas de comunicação, mas não falta meios tecnológicos para aprimorar a mesma, claro que não são todas as relações estabelecidas pelas redes que estão fadadas ao fenômeno, mas atualmente é possível estabelecer um acúmulo de pessoas que conhecemos virtualmente e que estabelecemos vínculos mal formulados, ou seja, criamos um acúmulo de relações vazias. Conhecer alguém virtualmente e sentir que conhecemos a mesma por anos é um sentimento comum nestas relações virtuais, mas devemos agradecer os algoritmos estabelecidos pelas redes sociais, entretanto, podem passar algumas semanas ou até mesmo meses com uma comunicação diária, mas geralmente tendem ao hiato e cria-se uma tendência de que quando  há o hiato, surge um prelúdio para buscar meios da “manutenção dos diálogos” que tendem ao fracasso dada a barreira física.

Mas voltando sobre as músicas que ouvimos até não as suportar mais, assim são as relações estabelecidas pela internet, conversamos até não ter mais o que falar, no fim é apenas mais um indivíduo que conhecemos quase tudo e nada ao mesmo tempo.

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *