Deitados sobre a cama, com as pernas esticadas contra a parede, ela tagarela e ele escuta. O casal moderna sempre é formado por uma pessoa aflita, ansiosa, e outra que é reprimida, omissa. Geralmente, eles partem o coração um do outro. Mas naquele instante, que não precisa de grandes descrições, as palavras soltas ao espaço precisam ser registradas, não somente na memória das parte envolvidas, mas também escritas.
– Eu acho que eu gosto de você de um jeito meio sufocante. – Ela proferiu, com um tom mais sério na voz, dispensando a leveza com que falava anteriormente.
Surpreendido, ele virou a cabeça para encará-la e questionou:
– Sufocante? Como assim?
Os olhos dela se fixam nas linhas de tinta rachadas no teto, mas seu olhar é introspectivo, é dentro de si que ela examina.
– É… Sufocante. Eu sempre me sinto um pouco sem ar quando não estamos juntos. É quase ansioso… Mas sempre parece que quero inspirar você inteiro pra mim, quando estamos juntos. É meio… agonizante.
Sem mais o que entender, ele volta a encarar o teto.
– Não é bom se sentir assim.
O silêncio toma o espaço. É preciso registrar declarações não recíprocas.
Eu te mostro o que eu escrevo e você me diz o que eu sou?
Rio Claro/SP. 20 anos.