História Reflexões

Crescimento

A chuva escorre lentamente pela vidraçaria da janela, mas dentro de caso é úmido e quente. O cheiro do aconchego de casa é salgado, temperado, como se tivesse origem na cozinha e se espalhasse naturalmente pelos cômodos, impregnando nas paredes e na pele. Os móveis em tom de madeira escura e os revestimentos e tecidos bege, tão ar de certa graça na casa e não incomoda os olhos. Os sons das hélices dos ventiladores nos cômodos da casa são a trilha sonora que se combinam com os arranjos descompassados dos eletrodomésticos a estalar.

No entanto, no canto da sala, sentada numa poltrona antiga e com a cabeça debruçada sobre uma mesa de madeira, uma jovem mulher encontra-se aos prantos. O desespero soluçado se entrelaça com a respiração tentando ser abafada. É visível que tenta controlar o choro, não desejando entregar-se aos sentimentos obscuro a incerteza sobre a vida. Mas é inevitável que os olhos não consigam deixar de marejar e até inundar a face, pois os pensamentos receosos, angustiados, não abandonam o campo das ideias.

A constatação de um cenário perdido, de que a construção requer tempo – e nessa geração, este é um recurso escasso – deprime a mente e interrompe os sonhos. Que os jovens se recusam a ver o quadro da realidade é comum, mas as emoções intensas da sua revelação é doloroso. Quisera, aquela jovem mulher, ainda repleta dos seus sonhos de menina, sentir-se menos incapaz. Mas a areia movediça da depressão e da ansiedade não permite movimentos. Qualquer tentativa de salvação, de sonho, de esperança, parece somente a afundar mais. E o choro é o anuncio da tragédia, de um dos maiores atos silenciosos do teatro da existência: crescimento.

Não se pode mais ignorar os quadros da verdade… Estão dispostos por todas as paredes, e todos querem saber quais se escolheu contemplar. Sempre haverão telas não contempladas, e o arrependimento torna-se uma possibilidade de consequência das escolhas. E por horas a fio, a jovem não se move e nem deixa de chorar.

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